Pelas Segundas Chances

O que aconteceria se não tivéssemos segundas chances? Como seriam nossas vidas se não nos fossem dadas novas oportunidades? Não busco condicionar, a priori, ao percurso do arrependimento como resposta, mas sim às situações cotidianas: o que seria de nós se não tivéssemos a chance do segundo emprego, da nova carreira, outro lar, novo país.

A primeira provável consequência da ausência da segunda chance seria a total superficialidade das relações. Sim, porque aos nos relacionarmos profundamente (família, amigos, igreja), aplicamos ao outro provas de paciência, longanimidade, resistência. Ou você se acha tão perfeito ao ponto de não gerar no (muito) próximo a iniciativa de uma segunda chance pelo erro que você cometeu? Logo, se nos fossem ceifadas as novas oportunidades, viveríamos na absoluta efemeridade, com medo de ferir e sermos feridos. Teríamos uma vida em total solidão

A segunda provável consequência seria o cativeiro das circunstâncias que nos aprisionariam, formadas a partir dos erros que teríamos cometido. E erros não necessariamente são pecados. Só que sem as segundas chances, investimentos, carros, sociedades com alguém seriam um caminho sem volta. Já pensou?

Por fim, o terceiro desfecho da ausência das segundas oportunidades seria viver eternamente na consequência dos pecados cometidos. Há equívocos, mas há pecados. Quando pecamos, estamos sinceramente errados e agimos conscientes do erro. Sabíamos, mas insistimos. Fizemos uma espécie de cálculo custo x benefício e pagamos pra ver. E aí não teríamos segundas chances, mas eternos lamentos.

A julgar pela Israel apresentada de Jeremias às Lamentações, Deus poderia anular as segundas chances do povo. Amalgamados aos baalins, abandonaram o Pai. Os adjetivos e metáforas usados no texto, evidenciando a ira do Senhor, são impressionantes: jumenta no cio, prostituta, toca de hienas, aves de rapina. Só que enquanto o lamento enxerga o passado, a esperança olha para o futuro. Em determinado momento da narrativa, o autor diz que as misericórdias são inesgotáveis e se renovam a cada manhã. A misericórdia do Senhor nos chama à reconstrução. Errado pensar que o Pai iria destruir Israel e na hora H mudou de ideia. Coerente visualizar que, ao nos permitir percorrer novos e pavimentados caminhos, Ele nos impede de sermos destruídos.

Coerente visualizar que, ao nos permitir percorrer novos e pavimentados caminhos, Ele nos impede de sermos destruídos. Neste domingo, o dia já começou. As misericórdias do Senhor se renovaram. Talvez você não encontre motivos para mudar alguma coisa. Mas experimente orar para que Deus aponte os erros que você comete e não percebe, ou a coragem para enfrentar os erros que te aprisionam, te impedem de uma real vivência em Cristo Jesus.

Presb. Felipe Barreto
Igreja Presbiteriana Luz do Mundo