Igreja Reformada Sempre se Reformando

(“Ecclesia reformata et semper reformanda est”)

Vimos de celebrar o aniversário dos 500 anos da Reforma Protestante. O mês de outubro foi pródigo – e não poderia deixar de assim ser – de celebrações e cultos em gratidão ao Senhor da Igreja. Após 31 de outubro de 1517, o movimento reformador ganhou corpo, e logo se percebeu que um passo além precisava ser dado. Aquilo que começara como proposta de reformar a Igreja, não foi aceito pelos mandatários da mesma, sendo necessário, então, o abandono do status quo, para efetivação da Igreja Reformada.
A intenção primeira de Martinho Lutero, Ulrico Zwinglio, João Calvino, Filipe Melanchthon, John Knox, Guilherme Farel e tantos outros, não visava a criação de outra Igreja. Como o nome do movimento afirmava, a proposta era reformar a que estava equivocado diante das Escrituras. Não encontrando eco na estrutura decaída e adulterada, de muitos dos dirigentes da Igreja, os reformadores saíram do meio deles, estabelecendo os caminhos bíblicos por onde a fé histórica, fé uma vez dada aos santos, poderia novamente caminhar livremente e se fortalecer na prática da Palavra de Deus.
Proclamaram os reformadores a justificação pela fé, afirmando que só a obra de Cristo pode salvar o homem, que é em si mesmo impotente e incapaz de salvar-se a si mesmo. Só a Justiça de Cristo nos redime, e esta justiça passa a ser nossa quando cremos, pela fé. Somos justificados pela fé.
Igualmente anunciaram o sacerdócio universal de todos os crentes. Uma vez que somos justificados pela fé, cada um pode viver livremente com Deus sem a necessidade do sacerdócio de outros homens. O único mediador entre nós e Deus é Cristo. Há um só mediador: Cristo Jesus, verdadeiro homem, que na cruz por nós Se entregou. A Reforma trouxe de volta uma Igreja que prega a cruz de Cristo.
Os reformadores conclamaram a Supremacia das Escrituras. A poderosa mensagem que ecoou na Europa do Séc. XVI dizia que só e unicamente a Bíblia é a Palavra de Deus e fonte de instrução, orientação e vida daqueles que creem. Nem a tradição, nem o parecer de homem algum pode contradizê-la. Ela é a única regra de fé e prática. A Reforma trouxe de volta uma Igreja centrada nas Escrituras.

Assim, os pilares da Reforma, como bem estudamos, podem ser sintetizados na lídima expressão: “Só a Escritura, só a graça, só a fé, só Cristo, só a glória de Deus”. Uma outra proposta dos reformadores, no correr da história, foi: “Igreja reformada, sempre se reformando”
Ou seja, sempre disposta a se reformar. A ideia central de tal ensinamento é que a Igreja do Senhor precisa estar sempre atenta aos seus princípios e nortes bíblicos, não se deixando lançar nos desvios doutrinários e históricos, tão comuns aos despreparados e mal intencionados.
Ela não estaciona, nem estagna. A Igreja de Deus encontra-se sempre sendo reformada pelo sopro do Espírito Santo.
É tremendamente importante e necessário para nós, servos do Senhor dos senhores, estudarmos a vida, circunstâncias e desafios do povo de Deus. O estudo da história eclesiástica nos fará descobrir as raízes do pensamento teológico que seguimos ou discordamos, nos capacitará a entender muitas posições assumidas no presente, frutos de um passado sofredor ou heroico. Fica aqui o desafio para que o estudo da História da Igreja seja uma preocupação constante e sempre atual para nós. Como a ecclesia reformata estabelecerá seus caminhos neste Séc. XXI? Quais os pressupostos para uma efetivação do Evangelho na vida do homem hodierno?
O estudo da História nos levará a pensar na relação da Igreja com o poder temporal; em seu envolvimento com o contexto social, econômico e natural do ser humano, gerando desafios e respostas. Deus nos abençoe a tomar consciência de nossa herança, a fim de empreendermos continuidade do livro de Atos, narrando, por nossas vidas, aquilo “que Jesus começou a ensinar e fazer”.
Que assim seja!

 Pastor Wladymir