Coração Íntegro e Alma Voluntária

 

          Temos neste texto um conselho de um pai ao seu filho no leito de morte. Não se despreza um conselho assim.

No caso, o pai é o rei Davi e o filho veio a se tornar o rei mais próspero e mais sábio de Israel, Salomão. É um conselho de pro­funda sabedoria e fruto de experiência pessoal com Deus. Davi era chamado de “o homem segundo o coração de Deus”, apesar de todos os seus pecados e contradições. Nas suas lutas e crises, nos seus pecados mais terríveis ou mesmo quando foi publicamente humilhado por seu próprio filho que tentou um golpe de estado, ele sempre buscou a Deus de coração íntegro e alma voluntária.

Coração no Antigo Testamento significa o homem inteiro quando visto da perspectiva de seu con­junto de valores, suas convicções e sua vontade. Apresentar-se a Deus com o coração íntegro significa dei­xar que o Senhor influencie todas as suas decisões e pensamentos. Significa buscar a Deus com a men­te, a vontade e as emoções. Não deixar escondido nada da face de Deus. Servi-lo com o coração inte­gral, não dividido, sem duas verda­des, sem dois pesos ou duas me­didas.

Significa ser em casa o que se é na igreja ou no trabalho, não viver uma vida secreta titubeando entre dois comportamentos. Só assim nosso compromisso com Deus, com os homens, com as institui­ções como a igreja e a família será conforme o coração de Deus (Atos 13:22).

Alma voluntária significa o ânimo interior, a predisposição do ser. Servir a Deus de alma voluntária significa acreditar no projeto de Deus para a sua vida. Entender que o compromisso com Deus não é forçado, nem por impulso, nem temporário.

Significa o que disse Jesus ao escriba quando interrogado so­bre o que era mais importante na lei. Ele disse “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Mt. 22:37.” Depois disse “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Quando há amor, há integralidade de coração. Quando há amor, há voluntariedade do ser, da alma. Um espirito voluntário não é desprezado por Deus (Sl 51). Este amor implica em bus­car o Senhor num compromisso sério de viver melhor, de dar o melhor de si, de empenhar toda a sua força e vontade em servir ao Senhor.

Não quero dizer que devemos nos tornar mais religiosos e comprometidos com a vida da Igreja somente, embora isso seja uma consequência natural. Significa que vou ordenar de tal for­ma a minha vida que haverá tempo para o que é importante e não só para o que é urgente. Significa que o meu trabalho é uma vocação de Deus para mim e devo fazê-lo como um ministério a Deus e aos homens.

Entender que não fui chama­do a ser apenas alguém que luta pela comida e conforto, para so­breviver, mas que meu trabalho, minha família com todas as suas dificuldades e alegrias, meus amigos, meu lazer e o meu com­promisso com uma igreja são a expressão na vida do meu rela­cionamento com Deus. Isto é vida abundante. Isto é ter “Shalom” (paz em hebraico). A palavra Sha­lom não significa apenas ausên­cia de guerras ou conflitos. Sig­nifica uma estabilidade interior que nos faz passar pelas crises e conflitos sem desmoronar. Signifi­ca uma vida rica de contentamen­to e gratidão. Significa que tenho uma missão dada por Deus para com tudo e todos que cruzarem o meu caminho.

Salomão ouviu este conselho de seu velho pai e Deus lhe deu sabedoria e riqueza, respeito das pessoas e abundância de bens. Mas, diz a Bíblia em1 Reis 11:4 que ele deixou seu coração se desviar. “Sendo já velho, suas mu­lheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus, como fora o de Davi, seu pai.”

Davi foi um homem de coração íntegro e alma voluntária todo o tempo. Salomão foi apenas parte do tempo. Persevere em amar ao Senhor de todo o coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento e vontade. Assim a sabedoria o acompanha­rá todos os dias de sua vida.

 

Rev. Evaldo Beranger

Pastor da Igreja Presbiteriana Luz do Mundo