A Genealidade de Genebra (II)

A glória recuperada: A necessidade da Reforma era fundamentalmente esta: Roma “destruiu a glória de Cristo de muitas formas” (Obras Selecionadas, p9). De acordo com Calvino, a razão para a igreja estar “carregada com tamanhas doutrinas estranhas” era “porque a excelência de Cristo não é contemplada por nós” (Obras Selecionadas, p.55). Em outras palavras, a grande defesa da ortodoxia bíblica ao longo dos séculos é a paixão pela glória e excelência de Deus em Cristo.
A questão não é, em primeiro lugar, os tão conhecidos pontos da Reforma: justificação, abusos sacerdotais, transubstanciação, oração aos santos, autoridade papal, dentre outros. Antes de todos estes – e o que está em jogo para Calvino – é a questão fundamental se a glória de Deus está brilhando em todo o seu esplendor e plenitude, ou de alguma forma sendo diminuída. Desde o início de seu ministério e até o fim de sua vida, sua visão era a centralidade, supremacia e majestade da glória de Deus.

Propagando os tesouros da Escritura: Geerhardus Vos sustenta que o foco na glória de Deus é a razão da tradição reformada ter sido melhor sucedida que a tradição luterana “dominando o rico conteúdo das Escrituras”. Ambos “lançaram-se às Escrituras”. Mas havia uma diferença: “pelo fato de a teologia reformada ter se apegado à raiz mais profunda das Escrituras, estava numa posição central para permitir que cada faceta dela brilhasse por si só. Essa raiz central que serviu de chave para abrir todos os tesouros da Escritura é a preeminência da glória de Deus em relação a tudo que foi criado.”
A grande genialidade de Genebra não era a mente de João Calvino, mas a paixão pela glória de Deus. Cada geração precisa abrir os tesouros da Escritura para os seus percalços particulares e possibilidades de seu tempo. Nossa geração não menos que qualquer outra. Penso que apenas faremos isso se formos profunda e alegremente dominados pela realidade que as Escrituras revelam – a majestade da glória de Deus.

Rev. John Piper