Vivendo o Reino do Rei

“Mas, que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer.” (Mateus 21:28-32)
Essa parábola, contada por Jesus, expressa a realidade do Reino de Deus como esperado desde a época em que o povo de Deus viveu seu exílio em Babilônia, fazia cerca de sete séculos. O Reino de Deus era uma utopia desejada e ansiada à época de Jesus. Mas seu entendimento havia sido deturpado, para poder se adequar à prática corrente de um povo que se satisfazia pela aparente vida de serviço a Deus, vivida no cumprimento de leis e preceitos.
Reino de Deus, enquanto desejo do Senhor, dizia respeito a coisas do coração, coisas que se refletiam em posturas práticas, geradoras de justiça, alegria, paz, felicidade… Um mover que começa a ser vivido de dentro para fora, e não atitudes movidas de fora para dentro através de ações, posturas e regras estabelecidas a partir de uma justiça de homens, baseada em uma visão turva da vontade de Deus.
Jesus sempre deu valor àquilo que as pessoas tinham dentro de si, e não ao que elas aparentavam para aqueles que julgavam o exterior. O homem vê as coisas que seus olhos captam, mas o ver de Deus as fazem desvelar aquilo que elas têm de verdadeiro. Há verdades interiores que fazem Deus sorrir, e há mentiras exteriores que fazem o Senhor esconder seu rosto daqueles que pensam buscá-lo (Is.1:10-17).
O filho que exteriormente se mostra errado, mas movido pela expectativa da graça do Reino de Deus em seu coração, faz o certo, é por Jesus, na contramão da lei apontado como revelador deste novo Reino que ele representa e traz: o reino do arrependimento, do perdão, da conciliação e da justiça graciosa que satisfaz.
O filho com a resposta correta, que satisfaz a aparente justiça dos homens com sua superficial religiosidade, é deixado de fora do projeto de Deus, porque faz aquilo que os outros valorizam, mas deixa de lado o que para Deus tem maior valor: a verdade.
Viver o Reino do Rei é dar a si mesmo a oportunidade da autenticidade para poder ser julgado, ensinado e agraciado com o amor do Pai mais do que os valores deste mundo têm a oferecer – por mais religioso que possa parecer. Quem vive no Reino do Rei está pronto para receber todos aqueles que o Rei chama a passar pelos portões de sua infinita graça, tem olhos que veem o coração, e braços abertos para abraçar esta nova realidade, tão oposta à pregada e valorizada pelo reino dos homens.

Rev. Jouberto Heringer
Capelão da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio